A finalidade do evento é desenvolver as habilidades natatórias nos discentes do Curso de Formação de Soldados

Nesta quinta-feira (11), mais de 500 bombeiros se revezaram em um dia inteiro de atividades na água, desafiando o limite físico e superando a barreira dos 1.200 metros de exercícios de salvamento aquático. Todo o percurso, realizado na Lagoa dos Ingleses em Nova Lima, foi executado sem o auxílio de equipamentos, em profundidades que podem chegar a 12 metros.

O objetivo do evento Travessia 2024 é desenvolver as habilidades natatórias dos discentes do Curso de Formação de Soldados (CFSd) em águas abertas, e contou com o apoio da Marinha do Brasil, que faz a gestão das águas em território nacional.

O recruta Sérgio Patrick dos Reis Marques contou sua experiência de quando ainda era um adolescente e ficou em apuros por não saber nadar. Sentimentos como o medo e desespero foram superados em mais uma atividade de capacitação promovida pelo Corpo de Bombeiros para o processo de formação dos soldados que, em breve, atuarão em situações diversas de afogamento.

Patrick relata que conseguiu concluir o desafio, demonstrando seu orgulho por vencer suas limitações. “Uma vez brincando no rio com meus irmãos e meus amigos, comecei a nadar na parte rasa e fui para a parte funda sem perceber. Quando parei, não consegui mais flutuar e comecei a ter um princípio de afogamento. Sempre tive um pouco de medo de água, mas para entrar no Corpo de Bombeiros fiz algumas aulas, mesmo assim, ainda tinha dificuldade e não conseguia nadar nem 75 metros. No curso e com a ajuda dos instrutores, já fiz prova de 400 metros, algo que eu imaginava ser impossível. Hoje, aqui na Lagoa dos Ingleses, consegui fazer a travessia de 1.200 metros. ”

Afogamentos

De acordo com a Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), 15 brasileiros morrem afogados diariamente, sendo a segunda maior causa de mortes no país. O Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) já registrou aproximadamente 2.500 mortes nos últimos oito anos em todo o estado. Este total representa uma média de 309 afogamentos por ano e quase uma morte por dia.

Em 2020, o CBMMG, por meio do Centro Integrado de Informação de Segurança Pública (Cinsp), realizou uma pesquisa qualitativa em seus registros de atendimento que demonstram que o perfil dos óbitos por afogamento em Minas Gerais é de homens, com idade média de 25 anos.

Além disso, 33% dos casos de afogamento acontecem na faixa etária entre 19 e 32 anos de ambos os sexos. Ou seja, é praticamente 10 vezes maior a incidência de afogamentos de homens do que de mulheres e a faixa etária dos 19 aos 32 responde por 1 em cada 3 afogamentos no estado.

Com base na análise qualitativa nos relatórios de atendimento das ocorrências, é possível afirmar que a bebida alcoólica funciona como um dos principais fatores contributivos de afogamentos. Funcionando como um estimulante, o uso indiscriminado do álcool faz com que seus usuários adotem ações mais ousadas e de exposição ao risco para impressionar seus grupos nas cachoeiras, lagos ou piscinas.
 
Além disso, a não utilização de equipamentos de segurança como coletes e boias é detectada em praticamente todos os afogamentos com resultado de morte, o que demonstra a importância do uso desses materiais.

Pode ser citado, por fim, o aspecto psicólogico em relação às águas mineiras. Pela inexistência de mar em nosso estado, há muitas vezes uma equivocada ideia pelo banhista que águas menos movimentadas tais como lagoas, cachoeiras e assemelhados oferecem menos riscos do que o mar. Essa impressão, completamente  equivocada, acaba gerando um comportamento excessivamente confiante que resulta na situação de risco associada ao afogamento.

Para reduzir os números tão significativos, o CBMMG reforça as ações de prevenção e conscientização dos cuidados a serem tomados nos momentos de lazer e incentiva a derrubada de padrões que induzem ao risco, além de intensificar a presença dos militares nos locais mais críticos, reforçando a conscientização por meio de ações coordenadas.